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Um país lá longe…

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Uma noite, antes de deitar-se, a Ana começou a pensar: e se em vez de arrumar a mochila com os livros e cadernos, ela arruma-se a mochila com coisas diferentes? Colocou lá dentro a sua saia preferida, os ganchos azuis do cabelo, a boneca e um chocolate (porque podia ter fome no caminho). Depois saiu de casa e foi viajar. Num instante chegou ao país mais longe da sua casa que era, segundo tinha ouvido, o melhor do mundo.

Quando lá chegou ninguém perguntou à Ana se tinha feito os trabalhos de casa nem se tinha comido tudo ao jantar e nem se tinha arrumado o quarto (como às vezes os pais lhe perguntavam lá em casa). Ninguém lhe perguntou nada porque não havia ninguém lá: era só a Ana. Aí aproveitou para ver tudo à vontade, subiu às árvores, tomou banho no rio e dormiu quando estava cansada. E, melhor de tudo, podia fazer isto todos os dias!

Ao fim de algum tempo, a Ana começou a ficar cansada. E não tinha ninguém para brincar porque não estava lá ninguém. E não podia falar com ninguém porque estava sozinha (quer dizer, ela falava com as arvores, mas elas não lhe respondiam). E não estava lá ninguém para a abraçar, nem para ajeitar a roupa da cama, ninguém para perguntar se o dia tinha corrido bem e a Ana tinha sempre tanta coisa para contar. Não sentia o cheiro do perfume da mãe, nem ouvia a voz do pai, não sentia o abraço deles, não fazia festas no seu cão e nem comia o bolo delicioso que a avó costuma fazer. Nada disto.

Então, a Ana pensou melhor, arrumou todas as suas coisas preferidas na sua mochila e voltou para casa. Ao chegar, abraçou os pais, foi directo ao quarto, colocou os livros e os cadernos na mochila, vestiu o pijama, lavou os dentes e deitou-se na sua cama. Talvez seja melhor visitar em sonhos o país longe e continuar aqui por casa.

Aos pais

As crianças fazem por vezes ameaças de que vão fugir de casa, em especial depois de ouvirem ralhar e quando percebem que esta ameaça provoca um efeito curioso nos pais (uns olhares preocupados, uma agitação…).

Normalmente, estas ameaças são uma tentativa de fugir aos castigos (ou pelo menos de abrandá-los).

Os pais devem manter-se firmes no castigo dado e conversar sobre o “fugir de casa” com as crianças, numa linguagem adequada à idade delas; no fundo desmistificar o efeito da ameaça que elas fazem, não a ignorando, mas «desmontando-a».


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