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O chapéu da tia-avó Emília

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A Emília estava aborrecida.

Na verdade, estava mais do que aborrecida, estava entediada, enfastiada, enfadada, … enfim todas as palavras do dicionário que queriam dizer que estava bastante chateada porque não tinha nada com que se entreter. A mãe e o pai estavam a trabalhar, os avós moravam longe, os primos eram mais velhos e já não se interessavam por brincadeiras e a melhor amiga estava doente.

A televisão era uma seca, os jogos estavam todos ultrapassados e as bonecas tinham sido colocadas de lado. Nada para fazer. Bem que a Emília tentava ocupar-se: sentava-se em cima da cama, deitava-se no sofá, ia à cozinha beber um copo de água, mas por mais que quisesse o tempo não passava.

Até que alguém tocou à campainha. Quando a Emília chegou à porta e espreitou pelo buraco não viu ninguém. Quer dizer, não estava lá ninguém, mas estava lá alguma coisa, porque quando abriu a porta estava uma embalagem no chão. Cheia de selos. Teria sido o carteiro que a teria lá deixado?

Emília trouxe a embalagem para dentro de casa e viu que a morada lá escrita era a sua. Mais interessante, era o seu nome que estava lá escrito. Embora muito curiosa, esperou que a mãe chegasse a casa para abrir o pacote (custou-lhe muito, os dedos tinham tanta comichão que só queriam abrir a embalagem para ver o que lá estava). Assim que a Emília ouviu o barulho da chave na porta, correu para a entrada com a embalagem na mão.

– Mãe, mãe, vê o que é isto! – Disse logo a Emília, mal dando tempo à mãe para pousar a mala; depois de um beijo e de um abraço, a mãe segurou no pacote e leu o que lá dizia.

– Foi a tua tia-avó Emília que te enviou esta embalagem. Abre para vermos o que está lá dentro.

E lá dentro estava… um chapéu. Grande. Com abas enormes. E uma flor azul. Que estranho! Afinal quem era tia-avó Emília e porquê um chapéu?

A mãe foi buscar o álbum das fotografias; lá estava a tia-avó (que era irmã da avó da Emília) muito bonita, nas fotografias. Aliás, a Emília chamava-se assim por causa desta tia-avó, de quem a mãe gostava muito e que, dizia-se, tinha sido muito aventureira. E até havia uma foto desta Emília mais velha com o tal chapéu na cabeça (e parecia que estava bem contente, com um grande sorriso).

A Emília mais nova pegou no chapéu e foi até ao seu quarto. Olhou para o chapéu grande, com abas enormes e uma flor azul. Revirou-o na sua mão, espreitou para dentro dele, cheirou a flor (que estranhamente, apesar de ser falsa, tinha um certo perfume) e colocou-o na cabeça.

Assim que o fez foi dar consigo a guiar um avião (daqueles pequeninos de dois lugares). Voava bem alto e a uma grande velocidade.

– E agora, o que faço? Não sei guiar aviões, até hoje só guiei a bicicleta!

Mas a verdade é que o avião ia muito bem; até parecia que a Emília já tinha feito isto muitas vezes. Ao fim de algum tempo, a Emília começou a descontrair-se; afinal não era assim tão difícil. Se calhar até podia ser piloto de aviões quando fosse grande. Assim que acabou de pensar no seu futuro, acendeu-se uma luz vermelha e ouviu-se um apito; então, um dos motores começou a tossir (parecia um pouco constipado). O avião estava a ficar sem combustível para voar, o que não era nada bom. A Emília tinha de aterrar depressa senão o avião corria um grande risco de cair. A sorte é que um pouco mais à frente havia um grande espaço para aterrar, sem nenhuma árvore.

Começando a descer, com as mãos muito firmes e o coração muito apertado, a Emília aterrou o avião sem ninguém ficar ferido (nem ela, nem o avião).

– Foi por pouco. E agora, sem avião como volto para casa?

Saltando do avião, começou a andar em direcção a um lago que tinha visto mais à frente, antes de aterrar. Ao chegar mais perto viu que existia lá um acampamento com duas tendas, uma fogueira e um carro. “Estou salva” pensou ela. Mas ao chegar mais perto ouviu um som de arrepiar, um grito que lhe colocou os cabelos em pé. Parou imediatamente. “Se calhar não é um bom lugar para pedir ajuda”. Seguido do grito, começou a ouvir um choro; curiosa, foi aproximando-se muito devagar para tentar compreender o que se passava. Assim que chegou perto da última árvore, viu que o choro vinha de um leão. Um enorme leão! Mesmo assustador.

Este leão estava fechado numa jaula. De repente, o leão começou a cheirar o ar e disse

– Quem está aí? Não te conheço. Mostra-te!

Um pouco assustada e sem conseguir desobedecer, a Emília saiu detrás da árvore.

– Quem és tu? – Perguntou o leão. Não te tinha visto antes.

A Emília apresentou-se e conversou com o leão, descobriu que este tinha sido capturado quando estava a tomar conta da selva, para ser vendido a homem com muito dinheiro que o queria meter numa jaula no jardim da casa; o problema do leão é que ninguém sabia que ele estava ali e não havia mais ninguém para tomar conta dos outros animais (afinal, era ele o rei da selva). Com muito cuidado e olhando em volta para ver se não estava lá mais ninguém, a Emília aproximou-se da jaula a abriu-a. O leão saltou imediatamente cá para fora e rugiu de agradecimento. Ao fazer isto, os caçadores que estavam a dormir na tenda ouviram e saíram para fora.

– Depressa, foge! – Disse a Emília.

– Sobe para cima de mim, agarra-te à minha juba e vamos embora. – Respondeu o leão.

Bom, a ideia não agradava muito à Emília, mas assim que viu os caçadores à procura das armas, correu imediatamente para cima do leão e partiram os dois o mais depressa possível.

Andaram um dia e uma noite até chegarem a casa do leão. Claro que a Emília foi muito bem recebida por todos os animais. Era uma heroína. Houve uma grande festa, com comida para todos. O rei tinha voltado para casa. Infelizmente, não era casa da Emília. E por mais que ficasse contente por estarem bem, estava também triste por não poder voltar para casa.

O leão, muito inteligente, reparou que a Emília tinha os olhos tristes e perguntou-lhe porquê. A Emília contou-lhe: gostava de estar ali, mas gostaria muito de voltar para casa, só que não podia porque o avião onde tinha vindo não podia voar.

– Como recompensa pela tua coragem ao ajudar-me a fugir dos caçadores, vou ajudar-te. No cimo daquela montanha existe uma gruta mágica que poderá resolver o teu problema. Só tens que saber o queres pedir e a gruta dá-te. Vou pedir ao elefante que te leve até lá.

Subindo pela tromba do elefante, a Emília sentou-se nas suas costas e foi até à montanha. Ao chegar lá desceu, agradeceu ao elefante pela viagem e foi procurar a gruta. Depois de muito andar, subir, descer e olhar, lá encontrou um buraco na montanha onde cabia apenas uma pessoa.

– Deve ser este o sítio. Vou entrar e pedir. Quero que o avião voe para voltar para casa.

Imediatamente surgiram duas asas aos seus pés.

– Não, não é isto que quero. Quero uma coisa para fazer o avião andar! – Duas rodas apareceram aos pés dela.

– Não, não estão a perceber. Bolas! – E várias bolas apareceram: umas grandes e azuis, outras pequenas e amarelas, outras ainda de futebol.

Não, por favor, eu só quero voltar para casa. – E duas portas surgiram em frente a ela. “Será que é isto?” pensou. E estendendo as mãos, abriu as portas. Assim que o fez saiu da dispensa da sua casa directamente para o corredor.

Que alívio!

A mãe andava à sua procura para ir tomar banho antes de jantar. Tirando o chapéu da cabeça, a Emília arrumou-o achando que o seu dia de hoje já tinha sido muito comprido. O melhor era experimentar novamente o chapéu noutro dia. Quem sabe até onde poderia ir dessa vez?

Aos pais

A criatividade e a fantasia são essenciais para as crianças crescerem; ajuda-as a pensar, a inventar, a experimentar e a descobrir soluções diferentes das que estamos habituados. As maiores invenções da humanidade podem estar na cabeça da sua criança. Estimule a sua criatividade através de improvisos de teatros e histórias, de jogos e brincadeiras.


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