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A curiosidade e o gato

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O Filipe parecia um rapaz igual aos outros: nem alto nem baixo, nem gordo nem magro… o que o tornava diferente dos outros eram os olhos. Os olhos do Filipe eram muito curiosos e precisavam de ver tudo; para falar verdade, os ouvidos também queriam sempre saber tudo. Bom, o nariz queria cheirar tudo e as mãos, já perceberam, também queriam tocar em tudo.

E como estava sempre à procura de novidades, às vezes o Filipe metia-se em sarilhos. Como daquela vez que encontrou uma canoa abandonado no lago e resolveu dar um passeio nela; claro que assim que entrou na água, a canoa começou a meter água – estava abandonada porque tinha um furo pequenino e deixava entrar a água. O Filipe resolveu logo o problema: tirou da boca a pastilha e colou no furinho, para deixar de entrar água e poder voltar para terra (ajudou ele estar muito perto das margens do lago).

Ou como da outra vez que ele decidiu descer a corda do telhado (não perguntem o que ele estava a fazer em cima do telhado) para o chão colocando o cinto e agarrando com as mãos as pontas do cinto (claro que aterrou em cima do arbusto e não se magoou por pouco).

Na verdade, o Filipe estava sempre a meter-se em sarilhos. Parecia que os sarilhos tinham maneira de o encontrar. No dia da nossa história, ninguém podia adivinhar o que ia acontecer. Estava tudo como sempre.

O dia correu normal e quando o Filipe chegou a casa achou estranho não ver o irmão mais velho na sala, a jogar com os amigos. Foi à procura dele e quando chegou à porta do quarto do irmão ouviu vozes. Curioso como era, ficou logo de orelhas em pé para saber do que estavam a falar. Foi aproximando-se devagar, mais silencioso que um gato, até estar suficientemente perto para ouvir. O irmão estava numa conversa muito animada com os amigos:

– “Já viste, vai ser muito fixe” dizia ele.

– “A malta vai ficar toda a olhar para nós quando aparecermos”, respondia o amigo.

– “Vamos ser os únicos na rua assim”, dizia outros dos amigos.

– “E já está tudo pronto?” perguntou um dos amigos.

– “Sim, a caixa está nas prateleiras da garagem, prontinha”.

– “Fixe, então vamos buscar o resto das coisas” responderam os amigos.

O Filipe escapuliu-se para o seu quarto e esperou que o irmão e os amigos saíssem de casa; assim que os viu afastar, foi a correr para a garagem. Quando entrou lá e viu a caixa em cima das prateleiras, não resistiu; tinha mesmo que espreitar o que estava lá dentro e o que tinha deixado o irmão com um ar tão conspirador. Mas a prateleira era muito alta e ele ainda era muito baixo. Mas nada podia impedir o Filipe.

“Bom” – pensou ele – “Se eu colocar esta caixa aqui, posso por os pés naquela prateleira e subir pela outra e já devo lá chegar”. Bem o pensou, assim o fez. Colocou o pé direito na caixa, o pé esquerdo na prateleira e foi subindo. Infelizmente, as prateleiras eram velhas e não aguentavam muito peso. A meio da subida, a prateleira começou a fazer barulhos estranhos (certamente a reclamar do que o Filipe estava a fazer) e de repente…partiu-se! O Filipe ainda tentou agarrar-se a alguma coisa e só conseguiu agarrar-se à tal caixa. Que tinha lá dentro um balde cheio de…tinta azul.

Um balde cheio de tinta azul! Imaginem como ele ficou… mãos azuis, pernas azuis, cara azul, cabelo azul… é que o irmão e os amigos tinham estado a juntar tinta azul para pintar as suas bicicletas (iam fazer um vistão quando aparecessem, todos com bicicletas azuis a parecerem novas).

O Filipe saiu dali a correr para casa para tomar banho (a banheira ficou toda azul). Quando o Filipe saiu do banho e olhou-se ao espelho apanhou um susto: o seu cabelo estava azul; voltou para o banho, colocou shampoo e voltou a esfregar muito bem a cabeça. Mas quando saiu outra vez e olhou para o espelho…continuava azul. Por mais banhos que tomasse, o azul não saía. E ficou de cabelo azul, até este crescer e poder cortá-lo (o que demorou alguns meses). Sempre que se olhava no espelho, lembrava-se do que tinha acontecido.

A verdade, é que o Filipe não deixou de ser curioso (é um bichinho bom que temos em nós e pode continuar durante toda a vida), mas passou a ter mais cuidado com o que fazia. Ninguém gostaria de andar na escola com o cabelo azul.

E o irmão? Claro que ele percebeu o que o Filipe tinha feito e como tinha desaparecido a tinta para as bicicletas, mas achou que andar de cabelo azul já era castigo suficiente.

Aos Pais

A curiosidade é essencial para o processo de descoberta e aprendizagem; é o que nos faz querer saber mais, inventar mais, mover mundos para fazer novas descobertas. Incentive a curiosidade da sua criança através de visitas a museus, jogos, mistérios, conversas, …


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